Pelo poder ou pela honra - trecho

Apenas a alguns meses os franceses tinham celebrado o início de um novo ano, apesar da recente derrota de outubro. A guerra seguia sem tréguas entre os povos irmãos, e os ingleses, aos poucos, conseguiam vitórias importantes. A derrota do exército francês em Azincourt abalara o país, não somente econômica e politicamente mas principalmente no que se refere a autoconfiança.
No interior do país, num território fiel a Charles VI, um jovem vivia sua guerra particular. O pai dele estivera presente na batalha contra Henry V e, agora, repousava no jazigo da família. O velho barão não tinha muitas posses mas seu feudo e seu título eram a causa de uma guerra justa: o direito à sucessão.
- Ainda nos pesa no coração a perda de nosso pai. Mas acho que é mais que hora de pensarmos na herança, meu irmão.
- O que quer dizer com “pensar na herança”?
- Temos que ver como vamos dividir-
- Dividir? Eu sou o único herdeiro.
- Eu quero uma parte, Estienne.
O rapaz deu uma gargalhada e encostou-se na cadeira.
- Você? -ele ainda não conseguia parar de rir- Quer uma parte? Ora, por favor, não me mate de rir.
- Por acaso não tenho direito? Por acaso o pai era só seu?
- Você sabe que o primogênito é o herdeiro. E eu sou o primogênito.


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