O maior de todos - trecho

Terminadas as audiências, o rei levantou-se e ía sair, seguido pelos ministros.
- Não -ele disse aos outros- Legrant, vem comigo.
Curt seguiu o rei ao gabinete dele. Os dois entraram e o conde fechou as portas e se aproximou do rei, parando, porém, a uma distância respeitosa. O rei olhou pela janela o Reno, ali perto, e os servos trabalhando nos campos, enquanto pensava em que palavras usaria para iniciar o assunto que o incomodava. Curt tinha os olhos sobre o jovem rei, que acompanhava absortamente a movimentação dos servos nos campos.
- Algum problema, meu rei? -ele achou melhor romper logo o silêncio.
Sem se mover, o rei disse:
- Quanto tempo ainda vou ter que suportar isso, Legrant?
Curt pensou por um segundo mas não entendeu a pergunta.
- Do que estais falando?
O rei virou-se e olhou para o conde, impassível.
- De ti.
- Não entendo, Majestade.
- Se não dás valor algum a teu cargo junto ao reino, deixa a corte e vai para teu castelo.
- Majestade, é uma honra para mim-
- Sempre chegas atrasado. Zombas de meus ministros -ele saiu da janela- Que cargo pensas que ocupas para agires assim, sempre tão poderoso?
- Majestade, eu- -ele procurava se desculpar.
- Cala a boca. Tu contas sempre as mesmas histórias. Pensas que eu não sei o que estavas fazendo? Eu sei. Se, pelo menos, fosse a tua mulher, eu seria capaz de perdoar.
- Meu rei-
- Vou te dar o direito de escolher mas só tens duas alternativas: ou tu te tornas um ministro responsável, ou deixas a corte e voltas a teu castelo.
Os dois se encararam alguns segundos, numa disputa de poder que nenhum venceu.
- Entendeste?
- Entendi.
- Não precisas me dar uma resposta: teu comportamento e tuas ações me dirão o que preferes.
O rei passou pelo conde, que curvou-se respeitosamente à sua passagem, e saiu, deixando as portas abertas. O conde acompanhou-o com os olhos, até que as sombras do corredor o encobriram.
- Garoto insolente. -murmurou.


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