A noiva trocada - trecho

Eles olharam na direção indicada e viram uma pessoa debruçada sobre uma das mesas. Aproximaram-se e chamaram por ela, sem ter resposta. Amândio suspendeu-a para ver se era quem procuravam.
- Meu Deus, é ela!
- Ela jantou, bebeu e apagou -a taberneira explicou.
- Bebeu? Bebeu o que?
- Umas três garrafas de vinho.
- Três garrafas!
Ele tentou acordá-la mas não teve sucesso.
- E agora, o que vamos fazer?! Como vamos apresentá-la ao noivo neste estado?!
- Do jeito que ele é, vai por a culpa em nós.
- E que culpa temos se o navio chegou antes da hora?
- Ah, já ouço a voz dele: “tu tinhas que ter previsto essa possibilidade”. Mas se tu, que és o chefe, não estás preocupado, eu, que sou empregado, é que não vou me preocupar.
Amândio pensou na reação do patrão.
- Ele vai ficar furioso. E com razão: devíamos ter vindo ontem, para evitar qualquer imprevisto.
Miguel olhou para a taberneira, que estava ali com eles, e para a moça adormecida:
- Ele não conhece a moça, conhece?
- Não. E que forma de conhecê-la: bêbada.
- E se... -e falou à taberneira- Pode nos dar licença um instante?
- Tudo bem. Mas ela não pagou a despesa. Quero ver quem vai pagar.
Ela se afastou e os dois cochicharam. Amândio olhou para as duas e deu seu parecer:
- É loucura! Isso não pode dar certo.
- Tu tens outra idéia?
Amândio pensou e chamou a taberneira de volta, perguntou qual tinha sido a despesa e pagou a conta.
- Como a senhora pode ver, eu e meu amigo estamos numa situação bem difícil.
- É, eu pude ver.
- A senhora não se disporia a nos ajudar?
- Eu? Como? Eu não sou médica nem “payé” para fazê-la acordar.
- Bem, nós temos que levar uma noiva a nosso patrão. A senhora não poderia ir no lugar dela?
- Eu?! Deus me livre! E quando ele descobrir que foi enganado? Não, senhor, eu não posso fazer isso.
- Nem se... se nós lhe pagarmos?
- Pagar? -ela se interessou- quanto?
- Quanto a senhora quer?

2 comentários:

  1. Gostei demais da trama, a ideia do livro me fisgou. Que confusão interessante. E o bom de tudo, logo de princípio já dá início ao tema central, sem rodeios. Amo livros assim.

    Parabéns, Mônica.

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  2. Pois é, Michel, vou direto ao assunto, bem objetiva mesmo. Acho que assim o leitor fica sempre com aquele gostinho de "e agora?", e acaba devorando o livro.
    Um abraço

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