O Aro de Ouro - trecho

- E então, o que acham? -ele perguntou aos estrangeiros.
- Parece um lugar muito bonito -Lucas foi cauteloso.
- Bonito? Isto aqui é lindo! -Vera estava deslumbrada.
- Esta é a sala do Conselho Legislador. É aqui que nos reunimos para decidir todos os assuntos de interesse da comunidade. Mas venham, vou lhes mostrar a cidade e as acomodações que escolhemos para vocês.
Os três saíram por outra porta. Estavam numa rua que beirava a praia.
- Parece Copacabana! -Vera percebeu.
- É, parece mesmo. Foi construída a partir de Copacabana.
- E vamos reconhecer outras partes da cidade? -Lucas perguntou.
- Provavelmente. Uma vez que nos instalamos aqui, decidimos moldar nossa cidade à maneira da sua, assim vocês não se sentirão em outro lugar. Ou, de outra forma, -ele sorriu, amistoso- se sentirão em casa aqui.
- É engraçado, não vejo o limite do aro. -Lucas comentou, olhando para o horizonte e para o céu.
- Achou que fosse ver?
- É, achei que o céu fosse dourado, ou que o mar tivesse um limite... Na verdade, não pensei que coubesse um oceano em um cilindro de um centímetro de diâmetro.
- Queria ver o limite do aro...
- Eu pensei que fosse possível ver.
- Já viu o limite do seu universo?
- Não. Mas o universo é imenso!
- Asseguro-lhe que é bem menor do que este aro que lhe parece tão pequeno.
Um carro parou à frente deles. Não tinha rodas mas flutuava no ar. E, apesar do barulho suave do motor, não soltava fumaça. O motorista abriu a porta e eles entraram. Enquanto percorriam a cidade, reconhecendo pontos familiares, esclareciam algumas dúvidas:
- Se ninguém morre aqui, -Lucas disse- a população deve ser enorme.
- Não foi dito que ninguém morre. A vantagem sobre seu mundo é que, aqui, a morte é voluntária. Quem já viveu o bastante sabe a hora de parar de viver.
- Vocês controlam a natalidade?
- Não.
- Então a população deve ser enorme. -Lucas insistiu.
- Não, porque no início éramos muito poucos. Agora é que estamos na terceira geração. -ele mudou de assunto- Achamos que vocês gostariam de morar no mesmo bairro em que moram, lá fora.
- É, seria uma boa idéia -os dois concordaram.
- Senhorita Vera, nossa companhia de publicidade se alegrou ao saber de sua escolha para vir para cá. Gostaríamos muito se você trabalhasse conosco.
- Ah, eu gostaria muito.
O Presidente entregou a ela um cartão.
- Sabe onde fica?
- Sei, é no Centro. Quando devo começar?
- Quando achar que deve.
O carro parou em frente a um edifício.
- É aqui que eu moro! -ela reconheceu.
- Precisamente -o Presidente confirmou- Vocês vão encontrar seus apartamentos como são, lá fora. Aos poucos, à medida em que forem se acostumando, terão acesso a facilidades que nós temos, e vocês, não.
Vera ía se despedir mas ele não deixou:
- Há ainda uma coisa muito importante a ser dita: nós não usamos dinheiro. Usamos as palavras “por favor”. Não negar favores a quem nos pede é prova de gentileza. E, entre nós, gentileza é uma lei.
Vera e Lucas fizeram um gesto, concordando que educação é a base de uma sociedade organizada em que existe respeito. Vera despediu-se dos dois e saiu do carro e entrou no edifício.
- Senhor Lucas, nossa Equipe de Construtores de Aeronaves aplaudiu nossa escolha de trazê-lo. Você é um bom piloto de testes e nossa indústria aérea está começando a se desenvolver. Ficaríamos felizes em tê-lo conosco.
- É, deve ser ótimo voar sem pensar em temer uma pane.
- Esse é seu problema: o medo da morte.
- Não exatamente. Gosto do que faço e sei que a morte voa comigo. Mas não é nada agradável saber que, num milésimo de segundo, pode terminar tudo.
- Isso não acontecerá aqui, com certeza. -ele sorriu.
- Onde devo me apresentar?
O Presidente entregou-lhe um cartão e Lucas leu.
- Aeroporto Santos Dumont? Fazem testes no aeroporto?
- Não temos aviação comercial: somos só uma cidade, não haveria sentido.
- Ainda assim: bem no centro da cidade? Se alguma coisa sair errada-
- Se algum acidente for necessário, -ele sorriu- escolha a baía. Sabe nadar, não sabe?
- Sei.
- Então não há problema. Mais alguma dúvida, Senhor Lucas?
O carro parou em frente a um outro edifício.
- Acho que não. Quando eu tiver alguma dúvida sobre como este lugar funciona, a quem devo perguntar?
- À pessoa mais próxima. Ninguém lhe negará um favor.
Lucas sorriu: era bom estar ali. Despediu-se do Presidente e saiu do carro.


2 comentários:

  1. Muito interessante, hein?
    Gostei!
    Fiquei bem curiosa pra ler o resto!
    Abçs, Jennifer Dhursaille (do grupo de Escritores do Linkedin)

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  2. Jennifer
    Você encontra o livro publicado neste link: http://livrosdemonica.blogspot.com/search/label/O%20Aro%20de%20Ouro
    Obrigada pela visita.
    Um abraço

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