Nem tudo que brilha... - trecho

Enfim um final de semana - o primeiro na casa nova. Isabel acordou cedo e preparou o café. Arrumou tudo numa bandeja e levou para o quarto. Quando entrou, Roberto já estava acordado.
- Nossa, café na cama! Que chique!
Eles trocaram um beijo de bom dia e sentaram-se frente a frente para o café da manhã.
- Hoje quero que você abra aquela porta pra mim.
- Pra que? Já vimos por fora: não há um balcão, nem uma grade, nada.
- É a única janela para o corredor e o alto da escada: é preciso arejar.
- Vai prometer tomar cuidado: uma queda daqui de cima pode ser fatal.
Ela sorriu da preocupação dele e prometeu.
- Sua mãe conseguiu uma empregada?
- Conseguiu. Ela vem na segunda.
- Então podemos arrancar toda a tinta da casa até lá.
- Mas tem que ser com cuidado, pra não estragar a camada de baixo. Eu vi como você ‘tava fazendo ontem: ‘tava quase arrancando o reboco!
- É que a tinta ali não ‘tava saindo. E, por baixo, só tinha outra camada de branco. Eu deixei de lado, depois você vê se dá jeito.
- Sabe o que eu estava pensando?
- Só vou saber se você falar.
- Uma casa antiga como esta devia ter um porão.
- O que a faz pensar assim?
- Casas antigas costumavam ter um porão, para guardar vinhos, defumar lingüiças... ou para os escravos dormirem... sei lá. Esta casa não é exatamente do tipo neoclássico mas ela é alta demais em relação ao chão, pra não ter outro andar embaixo.
- Ah, então vamos começar a procurar passagens secretas. E que tal se encontrarmos um porão, cheio de vinhos velhos, ratos devoradores de lingüiça e esqueletos de escravos esquecidos e trancados lá?
- Eu estou falando sério!
Ele deitou para trás, rindo.
- Está bem, -ele levou a sério- vamos procurar passagens secretas. -ele sentou novamente- Então o programa de hoje é abrir uma porta que dá para o céu, descascar as paredes do primeiro andar e procurar um porão. Não me diga que vai querer um sótão também.
- Eu tô falando sério, Roberto.
- Eu também. Não é melhor procurarmos um sótão também, de uma vez?
- É, pode ser uma boa idéia.
- “A casa misteriosa” - episódio de hoje: “em busca de passagens secretas” -ele riu e recostou-se nos travesseiros.
- Será que não dá pra falar a sério com você?
- Não. Não quando eu estou feliz. -ele a puxou para perto e abraçou-a- E eu estou feliz agora.
Ela o abraçou também e eles ficaram ali, juntos, muito tempo.


Um comentário:

  1. Mistério !? Adoro !!! Vou começar lendo este. Abraços
    Luciana

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